Sunday, July 24, 2011

The Wisdom of Jane Jacobs...

... on the importance of networks.
Great sense of reality and simplicity (kind of a rare thing among architects and urban planners).
Always worth listening to. Gotta love her.

"I stay away from visions of the cities of the future. Any city at all that's worth learning from our considering, has parts that work. (...) We should study the parts that work and the parts that people use. All hypotheses get tested in the real world. You don't have answers in advance and one size doesn't fit all. And the greatest asset that the city can have, that the city neighborhood can have, is something that is different from every other place. Don't think that it can be done with wishful thinking or pretty words. Think how to get examples done. And then don't hide the examples under a bushwa. Try them out, use them for public education. Show what they mean."


Monday, July 18, 2011

"Green streets" and Water Sensitive Design

Um link de um texto do Tucci sobre a possibilidade de se melhorar o manejo de águas no ambiente urbano através de desenho e com isso recarregar o aquífero.

Aqui um pdf do programa europeu "Switch Urban Water" explicando o que é Water Sensitive Urban Design e dando exemplos. Boa referência.



Thursday, April 28, 2011

This will blow your mind!

A very unique example on how apparently conflicting infrastructures can coexist. Harmonically.

I quite get to smile innerly when I think about how damn "forbidden" this would be here in Germany.

But, the Germans like it or not, it works, and it works beautifully.

A precious input for my PhD thesis and for landscape urbanism, infrastructural landscape, infrastructural urbanism, or whatever you feel like calling it.

PS: The shortfilm is unfortunately no longer available in YouTube. Search for "The Market" by Terje Sorgjerd.

Tuesday, April 19, 2011

Os anéis viários e as avenidas radiais de São Paulo

Ainda da tese do Fernando ("A Construção do Caminho", 2005), discorrendo sobre os anéis e avenidas da cidade, ele discute que a lógica estruturadora do território paulistano é diferente daquela proposta por Prestes Maia. Foi a partir do sistema de rios e córregos que alimentam a bacia hidrográfica de São Paulo que a metrópole se organizou: sobrepondo as avenidas aos fundos de vale.

"As mudanças mais determinantes se referem aos demais segmentos que fechariam o anel exterior previsto pelo Plano de Avenidas. Na década de 70, optou-se por desdobrá-lo em dois anéis distintos, os atuais Mini-anel e Anel Viário Metropolitano, que compartilham as avenidas marginais. Sua importância para a lógica dos fluxos metropolitanos é inquestionável. Mas, quando concluídos, a metrópole já se encontrava plenamente consolidada, o que dificulta a aceitação da idéia de que tais vias tenham operado na estruturação de São Paulo, ou mesmo de que São Paulo se estruture a partir de uma sucessão de anéis perimetrais.

Fonte da imagem: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak//CD/5bd/1rmsp/plans/h2pl-av/pl-av.jpg

O mesmo não ocorre em relação às vias radiais. É verdadeiro afirmar que toda a estrutura viária da cidade que se implanta após a elaboração do Plano de Avenidas reafirma o modelo radial preexistente e estabelece a articulação entre um centro único e a periferia dispersa, sejam bairros suburbanos, sejam municípios vizinhos. Um feixe de vias radiais convergentes a esse centro de fato estruturou todos os principais fluxos e, conseqüentemente, acompanhou o desenvolvimento da metrópole. Mas também é necessário olhar com atenção para esse conjunto de vias.

Antes mesmo da elaboração do Plano de Prestes Maia, as radiais já eram uma estrutura consolidada a partir da rede de caminhos que, a partir do triângulo histórico, buscavam o contato com os arredores da cidade. O modelo proposto não era, portanto, arbitrariamente imposto, mas derivado de uma análise da conformação urbana herdada pela cidade. O desenho radial não seria apenas o “systema ideal de ruas” mas também “justamente o que possue São Paulo” (SOMECK, 2002:62). No entre rios, os antigos caminhos originalmente procuraram as áreas mais elevadas, mais precisamente as linhas de cumeeira das colinas associadas ao espigão central. Nessa situação estão a Avenida Liberdade, a Avenida Brigadeiro Luis Antônio, a Rua Teodoro Sampaio e a Avenida Domingos de Morais, que são eixos a partir dos quais se organizam os bairros adjacentes e os fluxos intra-urbanos de passagem.

A peculiaridade do Plano de Prestes Maia residiu na decisão de ganhar os eixos de fundo
de vale para neles implantar as novas radiais necessárias para estruturar a expansão da
cidade. Um dos principais feitos de Prestes Maia, o Sistema Y, composto pelas avenidas
Tiradentes, 9 de Julho e 23 de Maio, relaciona-se diretamente aos níveis das terras baixas. Em vez de buscar a superação dos vales por um numeroso conjunto de viadutos dispostos no sentido transverso aos mesmos, o modelo implantado acabou por privilegiar a implantação de avenidas de fundo de vale, associando o transporte à mesma lei de mecânica de fluidos que rege as águas da cidade: quanto mais largo e extenso um vale, maior a contribuição de sua respectiva bacia e maior a capacidade de carregamento do seu eixo principal.

O paradigma rodoviário defendido com ardor por Prestes Maia criou pontos de inflexão ao desenvolvimento urbano, originalmente impulsionado pelo sistema sobre trilhos, porque privilegiou acintosamente uma técnica em detrimento de outra. Acarretou transformações urbanas induzidas pelas características intrínsecas à técnica dos sistemas de transporte sobre rodas, sobretudo a dispersão espacial, a desregulamentação do serviço e o predomínio do transporte individual sobre o coletivo. Mas, com a mesma força que promoveu a substituição do sistema sobre trilhos pelo sobre rodas, reafirmou o processo iniciado pelo sistema anterior de transformação e ocupação das várzeas.

Vale lembrar que o padrão de ocupação dos fundos de vale prosseguiu inalterado ao longo do tempo. O setor entre-rios recebeu as avenidas Sumaré, Pacaembu, Juscelino Kubitsheck, Bandeirantes, Águas Espraiadas, Roque Petroni. Reforçou-se, no setor além-Pinheiros, a importância dos antigos caminhos regionais junto aos córregos do M’boi Mirim e do Pirajuçara e com a construção de novas avenidas de fundo de vale, como a Eliseu de Almeida e a Avenida da Escola Politécnica. O setor além-Tietê desde sempre se organizou pelas avenidas que, seguindo o leito dos inúmeros córregos presentes, ganham o pé da Cantareira, entre elas as avenidas Luis Dumont Villares, Eng. Caetano Alvares, Inajar de Souza, João Paulo I, General Edgar Facó. O setor além-Tamanduathey, a partir da década de 70 vem sendo sistematicamente reorganizado pela importância crescente das avenidas Salim Farah Maluf, Aricanduva, e Jacu-Pêssego.

Todos esses importantes sistemas viários articulam-se com os eixos das marginais. Os anéis viários também se sobrepõem aos fundos de vale, inclusive e sobretudo nas marginais. Essa constatação corrobora a idéia de que, se olharmos para a área da Grande São Paulo em sua totalidade, e desde o ponto de vista viário, percebe-se que a metrópole se organiza a partir da rede de avenidas de fundo de vale correspondentes à estrutura tronco-alimentadora da bacia hidrográfica de São Paulo. Isto remete a um outro diagrama estruturante, muito distinto do de Prestes Maia." (Mello Franco. F, 2005)

Limpando a barra de Prestes Maia

Trecho interessante da tese do Fernando de Mello Franco ("A Construção do Caminho", 2005):

"Prestes Maia, em sua segunda gestão como prefeito, conseguiu dar início à construção das marginais, cujo impulso definitivo se deu na gestão Faria Lima (1965/1969). A feição das marginais foi bastante alterada entre sua concepção e sua realização, de maneira que não correspondem exatamente às proposições contidas originalmente no Plano de Avenidas. Enquanto o Plano inicial concebia um conjunto de inter-relações entre sistema viário, formas de aproximação ao rio e princípios urbanísticos de ocupação das margens das vias por edifícios de usos diversos, as avenidas construídas resultam de uma visão estritamente funcional. Concretizaram-se enquanto sistemas especializados e autônomos das formas de urbanização das suas áreas lindeiras." (Mello Franco, F. 2005)

Tuesday, March 29, 2011

What does a landscape architect do?

It's time to do some advertisement for the profession.


Wednesday, February 16, 2011

As Enchentes, os Resíduos Sólidos e as Medidas "Não-Estruturais"

Essa reportagem é do ano passado. Só que é atual, por isso estou colocando aqui no blog. A situação infelizmente não mudou de um ano pra cá.

Os 400.000 bueiros da cidade e as galerias pluviais não vencem escoar as águas pluviais devido à grande quantidade de lixo que é arrastada para o sistema durante as chuvas. É computador, sofá, televisão, bola de futebol. Tem de tudo. Confira no vídeo o caminho que o lixo faz e como isso influencia a ocorrência de enchentes.




Há a questão da conscientização do cidadão, mas certamente o problema não é só esse. Enquanto o governo continuar apostando em obras estruturais tradicionais (canalizações, piscinões, dragagem dos cursos d'água) para a resolução dos problemas, ao invés de investir em outro tipo de medidas preventivas/corretivas, continuaremos tendo enchentes na proporção que temos hoje. Mesmo que as pessoas parem de jogar lixo na rua.

O que seriam medidas preventivas/corretivas? Eu não gosto muito do termo "medidas não-estruturais" (acho que tínhamos que inventar um termo melhor, que não seja a negação de outro termo, mas algo que se sustente por si mesmo), mas assim são chamadas as medidas para prevenir/atenuar/corrigir os impactos e prejuízos causados por enchentes sem realizar grandes obras a custos altos. Tais medidas possuem custos menores, porém requerem uma mudança de paradigma: a adaptação às inundações urbanas ao invés de sua negação através da insistência em um modelo de transposição do excesso de águas pluviais para a jusante.

Entre as medidas não-estruturais mais relevantes considero:

- a implantação de parques lineares de auto-desempenho que ofereçam: um sistema de áreas de lazer, posibilidade de mobilidade transversal e longitudinal de pedestres e veículos leves e sua conectividade com demais áreas verdes da cidade, corredor ecológico contínuo de flora e fauna, sistemas filtrantes para a melhora da qualidade da água, sistema de drenagem eficiente com proteção/aumento de áreas permeáveis;

- a criação de programas de conscientização da população sobre medidas para evitar sobrecarregar a rede de drenagem; explicação do funcionamento do ciclo da água no meio urbano e sua relação com a bacia;

- a adoção de tipologiais de infra-estrutura verde por toda a cidade tais como os jardins de chuva, as biovaletas, as lagoas pluviais, os dispositivos para captura de resíduos sólidos e as superfícies drenantes/permeáveis que desempenhem serviços ambientais semelhantes aos processos ocorridos na natureza dentro do ambiente urbano. Os benefícios envolvem não apenas um manejo efetivo e de relativo baixo-custo das águas pluviais, mas uma série de outros benefícios, tais como a regulação do micro-clima urbano, a melhora da qualidade da água, o embelezamento da paisagem, o amortecimento de ruídos, entre outros;

- a adoção de políticas de gestão e uso do solos: os zoneamentos devem proibir ocupações inadequadas em zonas de risco; prefeituras devem ter instrumentos para adquirir áreas importantes para a drenagem urbana e estratégias para garantir que os usos em tais áreas não entrem em conflito com o manejo das águas pluviais; a regulamentação de uso do solo em áreas de risco deve ser estudada, para a atenuação do impacto de ocupações irregulares;

- a criação de centrais de informação sobre a previsão de enchentes, os pontos de alagamentos, recomendações de conduta, planos de evacuação de áreas e adoção de medidas de auxílio e recuperação de famílias e áreas afetadas por eventos;

- a manutenção dos sistemas de drenagem tradicionais existentes: limpeza de bocas de lobo, galerias e bueiros para que a água possa escoar sem problemas; dragagem de rios para a retirada de sedimentos;

- o controle do escoamento de águas pluviais nos lotes; garantia de que construções não piorarão as circunstâncias de drenagem vigentes antes da ocupação; incentivos financeiros para lotes com soluções de drenagem eficientes;

- a adoção de soluções arquitetônicas e de engenharia à prova de inundações em edifícios e áreas suscetíveis;

- o provimento de sinalização e rotas de tráfego alternativas para que os motoristas saibam como proceder em casos emergenciais de enchentes;

- seguro contra inundações.

As enchentes não são necessariamente sinônimo de catástrofe. Trata-se de um fenômeno natural, principalmente num território como o do município de São Paulo, onde uma grande quantidade de cursos d'água (1500 quilômetros lineares) e os tipos de rochas e o relevo configuram literalmente uma "cidade das águas" --- o termo virou o título do livro de Saide Kahtouni, no qual a autora discute as relações entre o processo de urbanização e a paisagem urbana.

Além disso, São Paulo é conhecida como a "terra da garoa". No verão são no entanto as chuvas intensas que castigam a capital, e não uma simples garoa, levando com freqüência à ocorrência de enchentes.

Todo regime fluvial possui uma época de cheia, porém enchentes tornam-se um problema em territórios urbanizados sem planejamento. A ocupação urbana do leito maior (e até o leito menor) do rio, rouba-lhe a área natural de transbordamento, suprimindo a vegetação nativa, mudando o perfil das encostas, impermeabilizando o solo e aterrando as várzeas. Além disso a urbanização é responsável pela produção de sedimentos e de resíduos sólidos, o que tornam rios lentos e de baixa declividade como os de São Paulo ainda mais lentos e suscetíveis a transbordamentos.

Para atenuar os efeitos negativos das enchentes em São Paulo, é necessário seguir uma agenda política coordenada que esteja baseada na adoção de medidas não-estruturais. Estas medidas devem ser integradas ao desenvolvimento de medidas estruturais* numa proporção diferente da qual têm sido realizada. Enquanto a balança dos investimentos públicos pesar tanto para o lado das medidas estruturais, continuaremos vendo os mesmos noticiários durante o verão sobre a perda de vidas por causa de enchentes.

*A adoção de medidas estruturais consiste essencialmente na execução de obras de engenharia hidráulica de grande porte para o controle e redução de risco de enchentes: reservatórios de retenção (piscinões), canalizações de córregos, diques, barragens, represas, etc.

Monday, February 7, 2011

Os rios foram asfaltados



Imagem: Marginal Tietê, 2009
Fonte: Wikimedia Commons (http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Marginal_Tietê_¹²³.jpg)
Autor da imagem: Lukaaz - Marcelo



Eu ainda quero escrever um artigo próprio sobre o assunto. Mas ainda não vai ser dessa vez. Então posto aqui mais um que acho que vale a pena ser lido. O artigo é da coluna "Isso não é normal!" do Estadão, de Junho de 2010. (Embora eu não compartilhe das "teorias da moda" sobre aquecimento global e colocações como estas "As mudanças climáticas já começaram e já estão atingindo o Brasil" soem completamente infundadas aos meus ouvidos, acho que o "delírio do aquecimento global" serviu de pontapé para despertar uma série de discussões que estavam em banho-maria. A definição de ilhas de calor usada no artigo não é propriamente precisa. Para quem quer saber melhor o que é uma ilha de calor, esse link explica).

O artigo foi originalmente publicado aqui. Vale a pena visitar o site original pelos mapas interativos (planta da área central de São Paulo com comparações antes e depois e uma planta antiga da cidade (1924) sobre a qual é possível navegar e conferir a grande quantidade de cursos de água que a cidade possuía quando tinha menos de 1 milhão de habitantes).

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São Paulo fica bem na cabeceira da bacia do Tietê. Cabeceira é a beirada da bacia, onde a chuva cai e escorre para dentro. A parede externa da bacia é a Serra do Mar, que bloqueia as nuvens úmidas vindas do Atlântico, e por isso é um dos pontos mais úmidos do Brasil. O lugar onde está São Paulo é onde essas nuvens descarregam toda a água tirada do mar. Por causa disso, a região era cortada por centenas de rios, riachos, córregos, que apanhavam essa aguaceira e a empurravam para o interior, rumo ao rio Paraná. Se você mora em São Paulo, não importa qual bairro, é certeza que um riacho corria pertinho da sua casa. Mas provavelmente não corre mais. Os riachos de São Paulo hoje estão quase todos dentro de canos, debaixo do asfalto.

A cidade começou sua história longe da água, na colina entre o rio Tamanduateí e o Anhangabaú – ninguém queria ficar perto d'água, dos mosquitos e dos atoleiros. Quando começou a crescer, a cidade foi pelos altos dos morros, longe dos rios. Avançou morro acima até onde hoje é a Avenida Paulista e se espalhou pela crista da montanha, onde hoje ficam a Avenida Doutor Arnaldo, a Heitor Penteado, a Rua Vergueiro.

Dê uma olhada neste mapa aí abaixo. Ele é de 1924, quando a cidade não tinha nem 1 milhão de habitantes (quatro anos antes, o censo de 1920 registrou 579.033 paulistanos). Note como a cidade é toda cortada por uma infinidade de linhas azuis. Eram 1.500 quilômetros de cursos d'água. Note também como as ruas da cidade geralmente não atravessavam os riachos. Corriam ao lado deles, mais para o alto dos morros, no seco. Se você mora em São Paulo, é quase certo que um rio já correu perto da sua casa – encontre o seu.


Para ver o mapa, clique aqui.


Mas isso foi bem no começo do crescimento explosivo da população, um dos maiores da história da humanidade. A população paulistana quase dobrava a cada década. Com isso, os rios foram sendo cobertos de asfalto. Por lei, já era proibido construir a menos de 10 metros de um riacho, mas essa lei nunca foi respeitada. Prova disso é que até Câmara Municipal da cidade fica bem em cima de um rio, o Bexiga. Esse processo se acelerou durante a ditadura militar, que radicalizou a opção pelo automóvel e construiu avenidas em quase todos os fundos de vale. Nas áreas de várzeas, os rios antes curvos ficaram retos e o asfalto chegou até a beirada deles. Carros precisam fluir rápido – por isso o melhor é ter asfalto bem lisinho. Já a água é melhor que corra devagar – o asfalto liso é um convite às enchentes (o ideal seria adotar superfícies rugosas).

Quando chove forte – mais de 100 mm num dia – água desce velozmente as regiões íngremes das cabeceiras, que geralmente são bairros pobres da periferia. No caminho vai arrastando casas, esmagando gente nos escombros. Quando chega nas regiões mais baixas, as antigas várzeas, levam um monte de terra, que vai assoreando tudo. É nesses lugares que a água se acumula, causando enchentes.

A rigor, portanto, não há enchentes em São Paulo – nós é que construímos a cidade em cima dos rios. E a situação vai piorar. Com as mudanças climáticas, a tendência é que chuvas fortes fiquem cada vez mais comuns – em São Paulo espera-se invernos mais secos (e poluídos) e verões mais molhados (e cheios de enchentes). São Paulo vai ter que descobrir maneiras de absorver essa água. Até hoje, apostou em construir "piscinões", que são imensas catedrais subterrâneas para acumular água (e lixo, e ratos).

Atualmente, há uma tendência de tentar buscar soluções mais "naturais" para escoar água. A prefeitura de São Paulo tem apostado em construir "parques lineares" – que são áreas verdes preservadas ao redor do rio. Além da vantagem óbvia – novas áreas de lazer – a terra das margens absorve parte da água e o rio aberto diminui a velocidade da enxurrada. Isso também diminui a temperatura do ar logo acima, reduzindo as chamadas "ilhas de calor", que são bolhas de ar aquecido pelo asfalto, que se chocam com o ar frio e úmido vindo do oceano e provocam grandes tempestades. "Estamos focando primeiro em fazer parques lineares nas cabeceiras urbanas – Aricanduva, Cantareira –, que é de onde toda a água vem", diz a arquiteta Alejandra Maria Devecchi, diretora de Planejamento Ambiental da Prefeitura. "E queremos garantir que os rios que restaram, em outras áreas da cidade, não sejam cobertos".

Há quem proponha que a solução da "renaturalização" seja adotada na cidade inteira. O engenheiro Sadalla Domingo, pesquisador da USP e funcionário da agência reguladora de saneamento e esgotos do Estado, tem um projeto para renaturalizar o rio Anhangabaú, em vez de construir um novo piscinão lá. "É muito mais barato e mais eficaz, além de poupar a cidade de ter que gastar para sempre limpando o piscinão".

Sadalla acredita que a cidade está cheia de oportunidades desse tipo. Ele nos levou para passear pelo bairro da Pompéia e mostrou vários pontos onde pracinhas podem virar laguinhos e becos abandonados podem se tornar riachos margeados por ciclovias. "Acho que todos os riachos da cidade podem ser pelo menos parcialmente abertos", diz. Não vai ser de uma hora para a outra. "Não é fácil concretizar esses projetos", diz Alejandra, da prefeitura. "A Secretaria de Obras nos diz 'não sabemos fazer assim'. É um jeito novo de pensar".

Mas é o futuro.